Relatório da Amnistia Internacional: notícia relacionada com o estudo do «Sermão de Santo António aos Peixes» de Pe. António Vieira
"O polvo com aquele seu cabelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus ralos estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo dessa aparência tão modesta ou dessa hipocrisia tão santa, testemunham constantemente (...) que o dito polvo é o maior traidor do mar."
Hoje deparei-me com esta notícia que nos mostra a atualidade do texto de Pe. António Vieira!
Relatório da Amnistia: trabalhadores imigrantes no Qatar são tratados "como gado"
Os imigrantes que trabalham nas
obras das infraestruturas para o Mundial de Futebol de 2022, no Qatar, são
tratados “como gado”, revela um relatório da Amnistia Internacional.
O documento – O Lado Negro da
Imigração: o sector da construção no Qatar antes do Campeonato Mundial de
Futebol – surge uma semana depois de o presidente da Federação Internacional de
Futebol (FIFA), Joseph Blatter, ter estado no Qatar e de dizer, após um encontro
com as autoridades do país, que “está tudo no bom caminho” quanto aos direitos
dos trabalhadores.
Uma grande investigação do jornal
britânico The Guardian tinha denunciado que os imigrantes eram tratados como
escravos. O relatório da Amnistia vem corroborar o que era dito na reportagem
do Guardian.
“É imperdoável que um dos países
mais ricos do mundo submeta os imigrantes a esta forma brutal de exploração,
que os prive dos seus salários e que os deixe à sua sorte para sobreviverem”,
disse o secretário-geral da Amnistia Internacional, Salil Shetty. “A nossa
investigação indica que há um elevado nível de exploração no sector da
construção no Qatar. A FIFA tem o dever de dizer publicamente que não tolera
este abuso dos direitos humanos na construção dos projectos relacionados com o
Mundial.”
Os investigadores da Amnistia
foram ao Qatar várias vezes entre Outubro de 2012 e Março de 2013,
observaram as condições de trabalho e de
vida dos imigrantes e fizeram muitas entrevistas para chegar às suas conclusões:
os trabalhadores vivem em pavilhões superpovoados, não têm todos acesso a água
corrente, estão expostos ao lixo e muitos não podem desistir daquele trabalho
porque têm, para com os empregadores, dívidas que pagam através dos seus
salários (o custo das viagens para o Qatar e da alimentação).
São os empregadores que ficam com
os passaportes dos trabalhadores quando estes entram no Qatar. Por isso, estão
“presos” a contratos que os condenam a uma “forma moderna de escravatura”,
escreve a Amnistia Internacional no relatório que concluiu que os operários
sofrem de “danos psicológicas graves”; e alguns suicidaram-se. De acordo com um
documento obtido pelo Guardian para a reportagem "Os escravos do Mundial
do Qatar”, publicada em Setembro, entre 4 de Junho e 8 de Agosto morreram 44
trabalhadores, todos nepaleses. Mais de metade morreu de ataque cardíaco e de
acidentes no trabalho.
"Por favor, há alguma
maneira de sair daqui? Estamos a enlouquecer", perguntou um nepalês que
trabalha há sete meses no Qatar sem receber e que estava proibido, pelo
contrato, de sair do Qatar por mais três meses. Muitos trabalhadores são
mandados embora no fim dos contratos ou quando o empregador quer, sem qualquer
pagamento. O relatório relata casos de imigrantes que só foram autorizados a
sair do Qatar depois de assinarem, em frente a funcionários do Governo,
documentos a dizer que tinham sido pagos quando não o foram.
A exaustão foi um factor de peso
nestas mortes, apesar de a lei do Qatar dizer que uma jornada de trabalho não
pode ter mais de dez horas e que no Verão (quando as temperaturas sobrem aos 50
graus) é proibido trabalhar entre as 11h30 e as 15h. A falta de segurança
também é um problema; a Amnistia relata que em muitas zonas de construção os
operários não têm sequer capacetes para se proteger. Os sindicatos ocidentais
que reagiram à notícia estimaram que há o risco de quatro mil pessoas morreram
na construção dos estádios do Mundial 2022.
O Qatar tem a mais alta taxa de
imigrantes e estes trabalham na sua esmagadora maioria em serviços domésticos
ou nos serviços mais baixos, como a construção civil. Para a construção dos
estádios e das infraestruturas do Mundial de 2022, recrutou mais 1,5 milhões de
pessoas e 40% delas são nepaleses; também há trabalhadores de outras zonas da
Ásia, por exemplo do Bangladesh.
A Amnistia encontrou um
encarregado de obra que trata os operários que tem a seu cargo por “animais”. É
contado o caso de um grupo de trabalhadores encarregado de levar mantimentos a
uma zona em construção — o documento refere que é no complexo onde deverá ser a
sede da FIFA durante o Mundial — que denunciou ser vítima de abusos e que
contou ser tratado “como gado”.
As denúncias do Guardian e as
advertências dos sindicatos levaram a FIFA a reagir e o seu presidente anunciou
que iria visitar o Qatar e avaliar o que se passava. Blatter encontrou-se com o
emir, Tamim bin Hamad bin Khalifa al-Thani, e no final disse ter ficado
descansado com o que lhe foi apresentado e anunciou que o Mundial do Qatar vai
ser “espectacular”.
Mas perante este relatório, a
Federação Internacional de Futebol teve de reagir. "A FIFA espera que quem
organiza os torneios e as competições também tenha o maior respeito pelos
direitos humanos", lê-se num comunicado do organismo. O texto lembra que
foram dadas a Blatter garantias de que as leis do trabalho "estavam a ser
melhoradas" e termina com um desejo: "O Mundial 2020 vai ter um
efeito muito positivo no Qatar e no próprio Médio Oriente e será uma grande
oportunidade para esta região descobrir o futebol como uma plataforma para que
ocorram mudanças na sociedade, incluindo a melhoria da legislação do trabalho e
dos direitos dos imigrantes."
Por acaso vi uma reportagem na SIC sobre este assunto. É horrível e inacreditável!
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